O livro Pulsão do mercado: uma história da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro cobre um espaço temporal de cerca de cinco séculos. O autor, Carlos Cova, foca sua narrativa na relação entre os espaços físicos ocupados pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, sempre gravitando em torno do Paço Imperial, e o seu papel na história econômica, social e política da cidade e do país, da Colônia até a República.
O autor parte do princípio de que os monumentos, prédios, ruas, catedrais, imagens, documentos e demais elementos de uma paisagem permitem a ancoragem de metáforas do passado, pois, embora tenham compartilhado experiências inacessíveis para nós nos dias atuais, propiciam a apreensão dos fragmentos de outras épocas.
Com o olhar crítico do presente pode-se compreender que a história de cada um desses lugares de memória é parte fundamental na busca pela importância da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e vislumbrar uma das leituras possíveis do processo histórico em sua perspectiva econômica, política e social.
Analisando o núcleo urbano inicial do atual Paço Imperial/Praça XV de Novembro, verifica-se que a partir dali a colônia portuguesa pode operacionalizar os fluxos de circulação de riqueza com a metrópole, aperfeiçoando paulatinamente os mecanismos que viabilizavam esse fluxo.
Desses primórdios em que não havia instituições organizadas para prover as múltiplas necessidades decorrentes da intermediação dos negócios e o capital empregado nas transações financeiras era uma fração do capital comercial, Carlos Cova segue as relações econômicas no Brasil ao longo de diversos sistemas, incluindo as capitanias hereditárias, os ciclos do ouro e do açúcar, a invasão francesa, o fim da Colônia, a vinda da família real portuguesa para o Brasil e a instauração do Império.
Especial atenção é dedicada a descrever o surgimento da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro a partir da criação da Praça de Comércio (atual casa França-Brasil), e o paulatino desenvolvimento de um mercado de capitais cujo centro dinâmico situava-se nas adjacências da rua Direita, atual Primeiro de Março. Impressiona verificar o quanto a bolsa de valores no Brasil já foi pujante, com um empreendedor do quilate de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. O livro também registra a transição dos investimentos de capital oriundos do tráfico de escravizados para outras atividades produtivas, num trágico registro acerca do início do capitalismo de mercado no país.
O fenômeno especulativo do encilhamento, como ficou conhecida a bolha de mercado da praça do Rio de Janeiro no período de transição entre o Império e a República, é igaulmente registrado em pormenores. Esse tipo de evento periodicamente retorna aos mercados financeiros do país e do mundo e demonstra que os ensinamentos históricos são esquecidos de uma geração para outra.
Ao longo da República Velha, do período de Vargas a Goulart, da reforma do mercado de capitais, do apogeu e do ocaso da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, a narrativa acompanha os percalços da economia no país, seus erros e acertos, e culmina com uma visão lançada para o futuro, para a relevância do retorno de uma bolsa de valores para o Rio de Janeiro.
O autor chama destaca que uma proposta de recuperação econômica do estado do Rio de Janeiro passará, necessariamente, pela restauração de uma bolsa de valores na cidade, em virtude do simbolismo que tal instituição representa na formação de expectativas e motivações dos agentes econômicos.
Mais de 80 imagens integram a edição, enriquecidas por legendas estendidas que as contextualizam, enriquecendo a leitura com esses testemunhos visuais do passado que também ampliam nossa percepção do presente.
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