Ira do Arpoador

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Ela nasceu Iracema, dia 1º de janeiro de 1937. Filha de alemães, cresceu na Rua Joaquim Nabuco, deu os primeiros passos nas areias e aprendeu a nadar no mar de Ipanema. Mais tarde virou Ira Etz, musa da praia, namorada de Arduino Colasanti, amiga de João Gilberto, Tom Jobim, Nara Leão e Millôr Fernandes, o craque do frescobol. Fez história, viu e ouviu muitas outras inesquecíveis nos efervescentes verões dos anos 1950. Às vésperas de completar 80 anos, a autora reúne suas memórias no livro Ira do Arpoador.

Durante um ano, com a ajuda do jornalista Luiz Felipe Carneiro, Ira revirou suas memórias. Munida do diário que começou a escrever aos 15 anos, de cartas guardadas desde a adolescência e de muitas fotografias, o texto veio fácil e leve como foram todos aqueles anos de juventude no Arpoador. “A vida passou rápido e esse livro é como se eu arrancasse uma tampa enferrujada de um balde cheio de histórias. Espero que ele me dê a oportunidade de juntar todos os meus pedaços, todas essas várias ‘Iras’”, diz.

As imagens antigas e trechos das cartas estão na edição, que tem contracapa do também amigo Ruy Castro, seu maior incentivador. “Só Ira Etz poderia ter vivido a vida de Ira Etz. E como sabemos agora, só ela poderia contar sua história. O resultado é este livro, que nos remete aos grandes verões cariocas que Ira estrelou e às areias onde deixou sua marca para sempre”, escreveu Ruy.

O livro de Ira começa antes de seu nascimento, ainda na Europa, onde conta um pouco de sua história. Depois vem a infância, a adolescência. O primeiro beijo foi em Arduino Colasanti, com quem por anos, como a própria autora lembra, “formou um time”. As amizades também foram muitas, Marina Colasanti, cunhada na época, é próxima até hoje. João Gilberto ela conheceu na própria casa, durante uma festa, trazido por Ronaldo Bôscoli. Mais tarde, em 1959, dividiu a capa da Revista Manchete com o compositor. Com Tom Jobim esbarrava pelos bares e sempre ficou fascinada com a preocupação dele com o meio ambiente, numa época em que ninguém falava do assunto.

Morou em Nova York, foi modelo, filmou a primeira versão de “Pluft, o Fantasminha” para o cinema. Na volta dos Estados Unidos, para ganhar um dinheirinho extra, deu aulas de inglês. O primeiro aluno foi Rubem Braga, que não estava muito interessado no novo idioma. Mais tarde veio o início conturbado do casamento com Pedro Paulo Couto, seu marido e parceiro até hoje. Com ele e os dois filhos, Luciana e Pedro, viveu muitas aventuras no barco Pery.

Desde lá muita coisa mudou, Ira formou-se em Psicologia, mas não seguiu carreira. Tornou-se artista plástica, mudou-se para o Jardim Botânico, perdeu o filho, virou avó, começou a escrever e lançou seu primeiro livro de poemas, Sou Eu. A conexão com Ipanema, que rendeu tantos capítulos de sua vida, no entanto, nunca foi perdida. “Todas as segundas-feiras vou ao Arpoador bem cedinho. Agradeço pela vida e peço proteção”, conta Ira.

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