Duas décadas depois de sua primeira individual no Instituto Tomie Ohtake, realizada no primeiro ano de funcionamento do espaço paulistano, Fernando Lindote retorna para apresentar sua produção recente na mostra Quanto pior, pior. Com curadoria de Paulo Miyada e Julia Cavazzini, do Núcleo do Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake, a exposição está centrada na apresentação densa e imersiva de 26 pinturas realizadas entre 2010 e 2023, que evidenciam o interesse do artista pela imagem da selva tropical, às quais se agregam algumas obras anteriores, de mídias variadas.
“Há algo em Lindote que remete à figura mitológica de Sísifo, que todos os dias empurra uma pesada pedra montanha acima, fadado a vê-la rolar em seguida e ter de recomeçar sua lida. As ideias de repetição, labor e fracasso permeiam toda a trajetória de Lindote, seja no modo como cada obra se faz no enfrentamento obstinado dos materiais e processos, seja na sua percepção do contexto histórico e social”, destaca a dupla de curadores.
Segundo Miyada e Cavazzini, na série de pinturas as coisas viram ruínas, formando uma selva úmida e voraz, aceleradora da entropia que consome o futuro conjugado nos projetos de país. “Não faz sol; pintar não é uma forma de alcançar beleza. O Brasil retratado pela máquina colonial falhou, faliu. Quanto pior, pior. Não há nada na capacidade de habitar o caos que relativize essa certeza. Quanto pior, pior – e isso não é motivo para indiferença. É motivo para a obstinação de fazer da repetição o motor da persistência”, completam.
No dia 28 de março, ás 19h, os curadores Paulo Herkenhoff, Paulo Miyada e Julia Cavazzini participam de um bate-papo com o artista no Instituto Tomie Ohtake. O evento marca também o lançamento do livro Fernando Lindote: não desespere por um estilo, concebido, organizado e escrito por Paulo Herkenhoff. Com prefácio assinado por Raúl Antelo, o livro é dividido em 27 capítulos com ensaios que abordam distintas séries, momentos ou conjuntos da carreira do artista Fernando Lindote. Os textos trazem descrições instigantes sobre a obra do artista, bem como uma visão crítica sobre os trabalhos, inserindo-os no panorama da arte contemporânea, conjugando imagens de trabalhos de Lindote (pinturas, esculturas, vídeos, performances, instalações, impressos) com imagens de referência da História da Arte.
Fernando Lindote
Nascido em Sant’Ana do Livramento na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, Fernando Lindote começou sua trajetória no final dos anos 1970. Iniciou-se como cartunista e chargista nos jornais gaúchos e adentrou as artes visuais como uma figura inquieta, mergulhada em uma prática inesgotável com performance, fotografia, instalação, pintura e escultura, sem nunca interromper sua relação com o desenho. A maior parte de sua produção fez-se em Florianópolis, ilha em que se estabeleceu desde 1983.
O artista, indicado ao Prêmio Pipa em 2015, reúne entre suas individuais: “DCI – Dispositivo de Circulação de Imagem”, Galeria Flávio de Carvalho, FUNARTE, São Paulo, SP, 2014; “O Soberano Discreto”, São Paulo, SP, 2013, “1971 – a cisão da superfície”, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, RJ, 2012, “Cosmorelief”, na Fundação Cultural BADESC, Florianópolis, SC, em 2011,”Todas as Imagens do Mundo”, na Fundação Hassis, Florianópolis, SC, em 2010, “Desenhos Antelo” na Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP, em 2008, “3D3M”, no Centro Universitário Mariantonia, São Paulo, SP, 2008, “Experiências com o Corpo”, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, 2002, “Muito Perto”, Museu Victor Meirelles, Florianópolis, SC 2002, “EDAX, XII Mostra da Gravura Museu da Gravura”, Curitiba, PR, 2000, “Teatro Privado”, no MAM-Rio, Rio de Janeiro, RJ, em 1999, “Olho de Mosca”, MASC, Santa Catarina, SC, em 1999.
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