Dentre as instituições criadas pela humanidade, talvez a que mais impacte seus criadores seja o dinheiro. Dizem que ele disputa com o amor a primazia de dar aos homens e às mulheres o maior dos prazeres, e que rivaliza com a morte como fonte de ansiedade e angústia.
Ao longo da história, os indivíduos em sociedade perceberam que suas necessidades seriam mais bem atendidas se realizassem permutas – peixes por lenha, castanhas por carne, frutas e sementes por peixes. Aqueles com estoques mais abundantes de certos bens os trocavam por outros do seu interesse. Era a fase econômica do escambo ou economia não monetária.
No entanto, uma economia baseada na troca direta de bens é bastante ineficiente. Era preciso encontrar um processo básico de gerenciamento de recursos: a unidade de conta. Ela permitiria referenciar qualquer coisa negociada nos mercados de bens e serviços por meio de unidades monetárias, ou seja, o preço de todas as coisas. Mas como identificar esse bem? Ele não poderia ser obtido de modo fácil, pois inflacionaria o ambiente de mercado; precisaria haver uma crença coletiva no seu valor e na sua adequação como meio de troca; e não
poderia se deteriorar facilmente.
Hoje, esse bem é denominado “dinheiro”, um termo que possui um significado mais amplo do que moeda, que assume características próprias. O dinheiro representou um dos principais impulsionadores das decisões humanas para o bem ou para o mal. Neste livro, o autor, Carlos Cova, apresenta uma sequência histórica dessa aventura empreendida pelo homem no seu convívio social.
A narrativa explora de forma leve e ágil e com uma profusão de imagens um arco temporal de mais de sete milênios. Inicia-se com as sociedades primitivas, que sobreviviam sem um instrumento monetário, como nos núcleos humanos nos deltas dos rios Nilo, Tigre e Eufrates. Explora os bens que fizeram as vezes de dinheiro, como sal, conchas, metais e seda, pérolas, entre muitos outros – as moedas-mercadorias, assim como os registros pioneiros de cunhagem de moedas na Lídia, no século VII a.C., que experimentou um ciclo de riqueza
graças à facilidade na realização de transações. O autor puxa o fio da narrativa passando pelos imperadores romanos, pelo surgimento dos grandes bancos na Renascença até os bitcoins e outras moedas digitais do século XXI.
O destaque fica para a história do dinheiro no Brasil e o seu papel na constituição do território primeiro como Império, depois como República. Nesse período experimentamos muitas políticas monetárias que manipularam o capital público com poucos acertos, resultando em ciclos inflacionários recorrentes, que lançaram o país em verdadeiras montanhas russas econômicas. Todas elas são abordadas com conhecimento de causa pelo autor, que já publicou vários livros na área de finanças, inclusive “Uma história ilustrada do mercado de capitais no Brasil”, lançado em 2021.
O autor, inclusive, explora uma aspecto da história brasileira pouco abordado, que é o quanto a gestão da moeda ao longo do período do Império e, sobretudo, do período republicano, esteve associada aos fatos que precipitaram os principais eventos. É possível observar que, principalmente durante e após a República Velha, a forma como é conduzida a gestão da moeda é fator determinante para o sucesso ou o fracasso do governante em curso.
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