O Rio de Janeiro viveu, nos seus últimos 15 anos, alguns abalos sísmicos. O espaço urbano mudou, as ruas mudaram, o futuro derrubou elevados, o passado se fez presente com a força do patrimônio, a tecnologia tornou-se obrigação, a cultura associou-se a uma economia competitiva de mercado, grandes eventos criaram âncoras de desenvolvimento e conflitos, novas práticas políticas foram criadas, novos editais e formas públicas e privadas de fomento se desenvolveram, partes antes abandonadas e negligenciadas da cidade ampliaram sua presença e conquistaram voz. Surgiram novos parques, novos museus, novos estádios, novos túneis, persistiram velhas mortes, velhos cheiros, velhas práticas nocivas à população, velhos clichês.
O livro Cultura carioca contemporânea, apresenta um retrato dessa cidade em convulsão, porém com o foco voltado para suas invenções coletivas no campo da cultura e da arte. Não se trata de uma história dos eventos e dos nomes, mas de uma narrativa que pode ser contada por meio de muitas frentes. Aqui, são dez iniciativas que, entre inúmeras de todas as regiões da cidade, representam um recorte emblemático do que se pensa hoje quando falamos de música, artes visuais, poesia, arquitetura, performance, design, literatura, cinema, ideias, gastronomia, produção, ensino, moda e, principalmente, trabalho. Todas as iniciativas que este livro apresenta são fruto de esforços coletivos, costurados por muitas mãos e vozes. Criam espaços para o cultivo de forças inventivas, instauram frentes de mediação com o poder público, instituem outros modelos de negócios sustentáveis, furam os bloqueios dos grandes grupos comerciais, bolam circuitos alternativos de circulação e consumo, fundam novos saberes fora do senso comum ou da fala ultraespecializada. Com origens distintas, com bairros distantes, com formações diferentes, todos agem em prol de uma ativação dos territórios urbanos. Se a cidade é ocupada e se o caos iminente nos pede o projeto de uma “nova casa” dentro da mesma que desaba, certamente muitas das ideias e saídas passam por esses nomes e por essa geração.
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